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Friday, October 28, 2011

Malcolm Gladwell: The strange tale of the Norden bombsight | Video on TED.com

Malcolm Gladwell fala e escreve muito bem. Eu fico pensando que, como ninguém pode saber de tudo, essas histórias que ele conta devem ter lá seus furos, mas são boas de toda forma, e bem contadas.
Nessa palestra recente do TED Talks, ele fala de como o desenvolvimento de tecnologias de guerra muitas vezes crias soluções de "grande precisão", tal como o tal Norden bombsight (veja a palestra pra saber o que é isso), mas que acabam por ser irrelevantes seja porque não funcionam em condições reais ou porque a ideia simplesmente é a resposta certa pro problema errado.

Malcolm Gladwell: The strange tale of the Norden bombsight | Video on TED.com

Thursday, October 27, 2011

Tuesday, October 11, 2011

Sobre Pittsburgh


Um podcast recente do 'The Moth' (veja Jim Krenn: Church Latin) um radialista conta uma história dele quando era coroinha em uma igreja do Strip District em Pittsburgh. A história é engraçada e me deixou com saudade de Pittsburgh.

Se me perguntarem o que acho de Pittsburgh, acho que tenderia a me lembrar com mais alegria do que sentia quando morava lá. Isso deve ser como a diferença entre felicidade vivenciada e felicidade recordada tal como explicado, bem melhor do que eu conseguiria explicar, por Daniel Kahneman numa palestra do TED talks.

Pra mim (e provavelmente pra maioria das pessoas), Pittsburgh parece uma cidade velha, nostálgica, mas autêntica e que mostra resiliência ao se superar (embora cambaleante) de períodos difíceis pra economia local. E a autenticidade e nostalgia, junto com o que ainda há de vigor na cidade, podem ser vistos no Strip District, principalmente em um dia de fim de semana (veja, se tiver paciência um vídeo de 2 minutos sobre o Strip que alguém postou no youtube ou confira o Strip no Google maps - não se engane, não há nada de sofisticado por lá).

Do meio pra o fim do século XIX, o Strip District era mais uma zona industrial da cidade. Lá, um sujeito chamado Andrew Carnegie abriu o que viria a ser a maior companhia de aço do mundo (ou do pais, sei lá) e que mais tarde J. P. Morgan tornaria parte da American US Steel. A empresa que viria ser a ALCOA também começou no local do Strip, bem como a produção de freios pra trem que foi o pontapé inicial da Westinghouse (antes do George Westinghouse inventar esses freios am 1869, era comum perderem-se mãos e braços ao se freiar os vagões manualmente).

Por volta do tempo da Guerra Civil americana em 1960, Pittsburgh estava crescendo rapidamente, voltada então pra produção de armamentos (se não me engano, ainda usando ferro fundido - o aço viria logo em seguida). Chegou gente da Irlanda (a grande fome da Irlanda ocorreu entre 1845 e1852), Italia, e Polônia, dentre outros países europeus. Dada a origem católica de muitos dos imigrantes, é possível se entender a presença católica na cidade (e daí a história de coroinha). Mais tarde, no início do século XX, vieram negros do sul como parte da Great Migration (um livro que mecionei recentemente no blog, The Immortal Life of Henrietta Lacks, fala de migração dessa época - embora não em Pittsburgh). Essa gente tinha que morar em algum canto e bairros de operários se formavam pela cidade.

Os imigrantes que chegaram no século XIX se assentaram ao redor do downtown e Strip. Sendo a região cheia de morros, e estando as aciarias na parte baixa perto dos rios, as zonas residenciais acabavam por parecer com a da foto abaixo, com muitas escadas ao longo do morro. Do lado do Strip District está, por exemplo, o Polish Hill, que como o nome indica, foi ocupado por poloneses; e ao sul do centro (Central Business District no mapa abaixo) está o Mount Washigton (pra citar apenas duas áreas).


Ainda há residências no Mount Washington, mas não exatamente habitação de operários como no século XIX. Inicialmente, por volta de 1877, o Incline (uma linha diagonal ao longo do morro na foto abaixo) levava carga, principalmente carvão, do morro pra cidade. O carvão do Mount Washigton era utilizado pra fins domésticos e pra indústria de vidro que prosperou por Pittsburgh antes do aço tomar conta do pedaço. Por volta do tempo da foto abaixo, a parte de cima do monte foi ocupada pra fins residenciais. O Incline passou a ser utilizado, com o tempo, predominantemente pra transporte de pessoas (hoje em dia, por turistas sem nada melhor pra fazer do que ir do nada pra lugar nenhum).
Acima: Duquesne Incline: 1900 (foto obtida no Shorpy Photos)

Vista recente do Incline ainda em operação - foto do Wikipedia .

Com o tempo, o carvão pra indústria de aço passou a vir, em quantidades maiores, de mais longe e podia chegar pelo rio (tal como na foto abaixo) ou de trem. Nessa época de crescimento rápido, o “embelezamento” da cidade não era uma prioridade e o rio era apenas um canal de transporte e negligenciado, tal como em tantas outras cidades. Na foto abaixo, por exemplo, a beira do rio não é propriamente um balneário.
Coal Fleet: 1910 obtida em Shorpy Photos

Um sujeito que fez fortuna com carvão (dentre outras coisas) foi Henry Clay Frick. A casa do Henry Clay Frick, chamada Clayton (esse é o nome da casa), ainda está de pé e aberta a visitação (veja uma ótima panorâmica 360o da sala de estar em Pittsburgh Revolution por Steve Mellon). Por fora e por dentro, dá pra notar o caráter sisudo da cidade e do Frick refletido na casa. Não há dúvida que o Frick morava bem melhor que os operários, mas a casa, que foi construída em 1860 mas foi comprada e reformada por Frick em 1881, não ostentava tanto quanto as casas de outros milhonários chamados Robber Barons (um termo pejorativo cunhado pra os milionários do século XIX, muitos enriquecidos com a construção de ferrovia - uma atividade nem sempre honesta, outros com aço e atividade bancária).

Vista externa da Clayton, a casa do Henry Clay Frick (foto do website do Pittsburgh History & Landmarks Foundation)

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O Mount Washington de hoje é (continua sendo) o cartão postal da cidade (se é que havia cartão postal naquela época em que não se via um palmo na frente dos olhos dada a poluição da cidade). A vista da cidade a partir do Mount Washington, mostrada na foto abaixo, era um programa obrigatório pra fazer com visitas em Pittsburgh quando morava lá, e um que eu faria, satisfeito, muitas vezes. O rio da foto é o Monongahela (ou simplemente Mon), e ele se junta, logo ali na esquerda da foto, ao rio Allegheny pra formar o rio Ohio. Não posso deixar de dizer que o Ohio é um grande tributário do Mississippi, que acaba por desembocar no golfo do México em New Orleans. É rio que não acaba mais. É nesse triângulo, entre os três rios, que está o centro de Pittsburgh.

Vista do centro a partir do Mount Washigton. Foto obtida do Wikipedia


Um passeio pelo centro da cidade deixa ver que a cidade já foi rica mas que esteve em decadência. Por volta da década de 1970 a região ia perdendo a indústria do aço e a cidade encolhia. O Strip já tinha se tornado em uma zona de comércio atacadista, até hoje por lá. O processo de suburbanização pós Segunda Guerra encolheu a população de bairros como o Polish Hill. A arrecadação de imposto residencial da cidade foi reduzida pois a maior parte dos subúrbios do entorno não fazem parte da cidade de Pittsburgh, o que gera um problema de arrecadação de impostos. Mais ainda, o comércio do centro foi enfraquecido já que ninguém quer vender onde não há ninguém pra comprar. Poucas lojas resistiram a essa tendência, como por exemplo a Macy’s que, quando eu cheguei em Pittsburgh ainda se chamava Kaufmann’s (cujo dono, Edgar Kaufmann, mandou construir no ano de 1936, em um local a duas horas de Pittsburgh, a Fallingwater que é, provavelmente, o projeto mais famoso do Frank Lloyd Wright).

O centro tem pouco de comércio hoje em dia, mas ainda é o centro de negócios e, mais importante ainda, é onde estão todos os três grandes estádios da cidade. Os estádios são algo que melhor indicam que a nem tudo está perdido em termos de revitalização da cidade. Se há uma coisa que é marca da cidade e que a une hoje em dia são os times de futebol americano (Steelers), de hockey (Penguins), e baisebol (Pirates, um tanto decadente mas com passado glorioso). O Heinz Field dos Steelers (veja aqui uma imagem panorâmica 360o do estádio) e o PNC Park dos Pirates (veja uma imagem panorâmica 360o de dentro do PNC Park aqui) tiram melhor proveito do rio Allegheny do que a indústria do passado. Proveito visual que se diga, pois os carros mandam do lado de fora, embora espaços mais humano estão sendo criados, como o da foto abaixo com o estádio de futebol americano ao fundo. Certo é que parece bem melhor que a beira do rio da foto acima com as barcas com carvão.

Foto do North Shore obtida do blog Pittsburgh Neighborhoods

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Mas a cidade que eu vivenciei é diferente da cidade tradicional em torno do centro. Meu dia a dia acontecia nos bairros em torno das duas maiores universidades da cidade (CMU e University of Pittsburgh): Shadyside, Squirel Hill, e Oakland.

Foto area da Carnegie Mellon University vista a partir da Cathedral of Learning


Eu morei em Shadyside, onde a comunidade de estudantes ainda se mistura com o que acho serem “nativos”. Embora de início a paisagem tenha parecido monotona, com o passar do tempo, acaba-se por se assimilar arquitetura e espaços publicos. Daí é possível ganhar um pouco mais de confidência, e sentir-se um pouco menos alheio à cidade. Mas mesmo depois de morar quatro anos na cidade nunca me me senti totalmente em casa, dadas as diferenças culturais (a língua a maior delas) e ao fato de parecer que cada vez mais difícil refazer um círculo de amizades depois de cada mudança.

Residência em Shadyside
Acho que o tempo que mais me senti parte de algo local foi quando fiz um “estágio de verão” na secretaria de água e esgoto de uma cidadezinha vizinha. Basicamente eu ia todos os dias conversar fiado, aprender sobre como gerenciavam a rede, e descobrir o que eles podiam me dar de dados (Monroeville poderia ser apenas mais um bairro de Pittsburgh). Em Monroeville me deparei com pessoas extremamente simpáticas e eu acabei gostando muito de ir por lá (meus orientadores me alertaram que deveria ser assim pois eu ia ser o sujeito exotico da secretaria). Contam que essa simpatia é marca das pessoas locais. Tenho que concordar, ainda que com base na pouca amostragem que tenho.

A presença das universidades tem ajudado a alavancar uma vocação de cidade voltada pra serviços e pesquisa. Por exemplo, já em 1952 a primeira vacina da pólio era inventada por Jonas Salk na University of Pittsburgh. Hoje em dia as coisas ficaram um pouco mais “high tech” e a cidade tem atraído companhias como a Google (que até pouco tempo funcionava dentro do campus da Carnegie Mellon. Há quem veja as universidades como geradoras de um grande benefício pra cidade e há que ressinta o fato de universidades não pagarem impostos que a cidade precisa desesperadamente.

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A recuperação do baque da saída da industria de aço mais três décadas atrás é lenta e com altos e baixos, mas segue bem mesmo ao longo da crise atual. O benefício pro espaço urbano e população não é uniforme pela cidade, mas partes da cidade deixam ver que há algo de novo no meio de bairros decadentes. Esse é o caso de Lawrenceville (fotos abaixo) e do South Side, onde pequenas lojas, restaurantes, bares (obviamente os estudantes precisam de bares pra se divertir), e estúdios de artistas encontram espaços, provavelmente ainda muito barato, para se estabelecer. A escala humana encontrada nesses bairros antigos é algo que eu desconfio que os americanos gostam, muito embora tenham optado sistematicamente por morar isolados em subúrbios. E graças ao fato de ter espaço sobrando, Pittsburgh oferece algo que os americanos adoram: preços baixos no mercado residencial.


La Gourmandine em Larenceville
La Gourmandine
(produtos)
Arsenal Cider House em Lawrenceville
Arsenal Cider House em Lawrenceville (interior)


Outras áreas tem se desenvolvido por meio de empreendimentos mais suburbanos e menos interessantes, como o Waterfront. O Waterfront foi construí do no lugar do Homestead Steel Works, que ficou famoso por uma greve de 1892, quando Henry Clay Frick, na época o administrador do Andrew Carnegie, chamou os Pickertons, uma agência de segurança privada, pra lidar com a greve. O resultado foi um dos poucos casos na história das greves dos Estados Unidos onde morreu mais gente do lado dos patrões e governo do que dos trabalhadores.
O strip mall Waterfront, um tipo de espaço suburbano e bem menos interessante que os empreendimentos tipo infill


É uma experiência animadora encontrar estúdios, padarias, restaurantes em locais que antes estavam abandonados como, por exemplo, quando caminhamos por Larenceville no Thanksgiving the 2010, quando voltamos para visitar amigos que ficaram em Pittsburgh. Pessoas ficando em Pittsburgh é, alias, sinal de que as coisas têm mudado por lá. E é por conta dos amigos que ficaram por lá, e dos bons momentos que ficam na memória (e dos ruins que vão se apagando), que eu fiquei saudoso quando escutei o podcast e resolvi escrever essas linhas.

Sunday, October 9, 2011

Extremos


Duas passagens do This American Life dessa semana com o título de Adventure  (http://www.thisamericanlife.org/ - podcast só fica 1 semana no ar) me chamaram a atenção pra os extremos desse mundo. A DARPA está financiando um estudo pra analisar tecnologias e modelo de negócio necessários pra vôos espaciais de longa distância. O negócio é sério apesar de parecer meio coisa de cientista maluco. Noutra passagem, um americano que passou oito meses numa prisão na China conta que os colegas de prisão, na maioria asiaticos e africanos mais alguns chineses (a prisão era pra presos estrangeiros e de crimes de colarinho branco, numa prisão que aparentemente era pra ser considerada modelo), não acreditavam que os Estados Unidos tinham um dia mandado um astronauta pra lua. Igualmente díspares são as realidades de sociedades e mesmo entre pessoas de um mesmo país/estado/cidade. Seja com relação a condição econômica, política ou opiniões sobre evolução e mudança climática, etc., uns vão pensando 100 anos na frente, outros vivendo 300 anos no passado.





Links das úlltimas semanas (até 9 de outubro)




The Marvels and the Flaws of Intuitive Thinking, Edge Master Class 2011 por Daniel Kahneman (longo)
Planet Money, The Friday Podcast: How Money Got Weird
In Pockets of Booming Brazil, a Mint Idea Gains Currency

Fim de semana de 8/9 de outubro

Fim de Semana Esse foi um fim de semana bom aqui em Austin, principalmente porque choveu o suficiente pra fazer poça na rua depois de uns seis meses sem chuva decente (não obstante do dia de reza pela chuva promovido pelo governador em maio ou abril desse ano - demorou mas foi atendida). Não lembro de ter ficado tão feliz com chuva na minha vida.

Outra coisa que me deixou feliz (embora um tanto nostálgico), foi ter visto um vídeo que um amigo desenterrou e colocou no youtube, com a aula da saudade da minha turma do Colégio Cearense, em 1993.



Uma terceira coisa boa foi ter descoberto a Chuy Bakery, uma padaria “mexicana” aqui de Austin, que vende um pãozinho francês e salgadinhos foleados que não deixam nada a desejar as melhores padaria de bairro de Fortaleza (ou Porto Alegre). Ainda bem que não dá pra ir andando.

Um ponto não tão auto do fim se semana foi o show do Fleet Foxes no Austin City Limits (um programa de música da distribuído pela PBS e filmado aqui em Austin): a banda tocou meio que sem vontade, e o show passou longe dos outros que fomos recentemente do Arcade Fire (veja o show do Arcade Fire em 2007 - o desse ano só deve demorar pra ir online) e do The Head and the Heart. Não ajudou que o album mais recente da banda não ser essas coisas todas (comparado com anteriores). Mas como dizia um professor meu, de graça até injeção na testa.